Rezas e responsos
— “Para curar os burros (herpes), rezava-se assim”:
Quando Deus pelo mundo andou,
Um bom homem encontrou
E para casa o levou,
À sua mesa o sentou
E à má mulher se fez a cama
Sobre a vida e sobre a lama;
Foi ter com Jesus
E Ele disse-lhe:
Vida, cura a dada e sara a mama
— O “mau olhado” poderia ser curado com a seguinte oração:
“Deus te formou, Deus te desolhe, quase mal para ti olhou.
Dois t'o deitarão, três t'o tirarão, que elas bem poderão.
Se o tens na cabeça, t'o tire Santa Teresa
Se o tens no coração, t'o tire S.João
Se o tens no costelado, t'o tire S. Tiago
Se o tens nos pés, t'o tire S. José
Se o tens na espinha, t'o tire a Virgem Maria
Se o tens no corpo todo t'o tire Nosso Senhor, que tem o poder todo”.
— A constipação do sol “arzipela” podia ser curada com a seguinte reza:
“Pedro e Paulo de Roma vinham, Jesus Cristo p'ra lá ia.
- Pedro e Paulo donde vindes?
- Eu, Senhor, venho de Roma.
- De que mal morre lá a gente?
- Mal de arzipela e mal de empola.
- Pedro e Paulo voltai atrás, essa gente atalharam, com o espárcio do monte e azeite de oliveira, em louvor da Virgem Maria Mãe e logo a arzipela se irá.
Padre Nosso e Avé Maria”
Esta reza era acompanhada com o sinal da Cruz, feito nove vezes com um pedaço da corda que o Senhor dos Passos trazia à cinta e com azeite.
— Para se encontrar qualquer coisa que se tinha perdido, recorria-se à seguinte oração:
“Santo António se levantou,
seus sapatinhos calçou,
suas benditas mãos lavou
e se pôs a caminho, caminhou
Jesus Cristo encontrou.
Jesus Cristo lhe falou:
- António, aonde vais?
- Eu, Senhor, convosco vou.
- Tu, comigo não irás. Volta atrás e o ...(aqui era nomeado o objecto perdido)
Tu o encontrarás.
Em louvor de Santo António,
Faça com que apareça.
Padre Nosso e Avé Maria”
— Para acalmar as trovoadas, poder-se-ia recorrer a Santa Bárbara, queimando restos de loureiro ou de oliveira benzidos que se guardavam desde o Domingo de Ramos:
- “Santa Bárbara bendita
Que no céu está escrita
Com papel e água benta
Nos livre desta tormenta
Lá para bem longe
Onde não haja pão nem vinho
Nem flor de Rosmaninho
Nem para o pé da bela cruz
Para que a nossa alma
Se não perca.
Ámen. Jesus”
ou, então, rezando assim:
“Barbozinho se levantou,
suas santíssimas mãos levantou,
começou a caminhar
e Jesus Cristo encontrou.
Jesus Cristo lhe perguntou:
- Barbozinho p'ra onde vais?
- Vou arramar esta trovoada.
- Pois arrama lá p'ra bem longe, onde
não haja eira nem pé de figueira, nem
mulheres com meninos, nem vacas com bezerrinhos”
— Quando o nevoeiro está cerrado, canta-se assim para o espantar:
Vai-te, vai-te, nevoeiro
Lá p'rá serra da Carvalha
Onde está a tua amada
C'uma cadelinha cega
Quem na cegou? – Foi o lume
Qu'é do lume? – Anda nas moitas
Qu'é das moitas? – Roeram-nas as cabras
Qu'é das cabras? – Estar a dar leite
Qu'é do leite? – Bebeu-o a velha
Qu'é da velha? – Está a escramear lã
Qu'é da lã? – Espalhou-a a pita
Qu'é da pita? – Esta a pôr os ovos
Qu'é dos ovos? – Bebeu-os a carriça
Qu'é da carriça? – Deu um berro que espantou toda a gente.
Só lá ficou a velha
Embrulhada no sapato
Para matar um rato.
— Para atalhar o bicho ou cobrela usa-se a folha de oliveira com a seguinte reza:
“Que atalho? – Bicho
Bicho e bichão
Sapa, Sapão
Lagarto, lagartão
Aranha, aranhão
Bicho de toda a nação
Tudo aqui atalho
Pelo amor de Deus
E da Virgem Maria
E de S. Pedro e S. Paulo
E do Apóstolo S. Silvestre
Isso que te faço preste,
E ele seja o verdadeiro mestre”
— Para atalhar o ar, praga rogada e olhado reza-se:
Criatura
Deus te fez e Deus te formou
Deus acanhe a quem a ti te acanhou
Corto o ar, olhado e praga rogada.
Padre Nosso e Avé Maria.